Bixa orellana L.
Família: BIXACEAE
Nome científico: Bixa orellana L.
Nome popular: urucum
Fotos: Sandra Zorat Cordeiro
Fotos: Ricardo Cardoso Antonio
Para o PDF da etiqueta, clique aqui.
Foto: Matheus Gimenez Guasti
Nativo da América Tropical, ocorrendo entre as Guianas e o estado da Bahia, o urucum é, na verdade, o fruto do urucuzeiro, cientificamente denominado Bixa orellana (pronuncia-se “Bicsa”). Esta espécie se apresenta, comumente, como uma arvoreta, podendo atingir, segundo alguns autores, até 9 metros de altura. Seu tronco possui cor marrom escura, extremamente ramificado, o que leva alguns autores a classificá-lo como um arbusto bem desenvolvido. Suas folhas são cordiformes, acuminadas, discolores, com face abaxial mais clara e face adaxial verde brilhante, e apresentam filotaxia alterna. As inflorescências são do tipo panícula, e desenvolvem-se no ápice dos ramos, com flores grandes, perfumadas e vistosas, de cálice gamossépalo e corola dialipétala, com pétalas cor de rosa ou esbranquiçadas. Os estames são numerosos, possuindo filetes de cor amarela na base e rosa no ápice, com anteras de cor rosa, dando um belo efeito ornamental às flores.
Seus frutos são equinocarpos, tipo cápsula, de cor marrom-avermelhada, contendo até 50 sementes arredondadas, com arilo ceroso de cor vermelha-alaranjada, que se torna seco e escuro com o tempo. As sementes contém um poderoso corante, a bixina: um pigmento lipossolúvel, que representa mais de 80% dos carotenoides presentes; além disso, o urucum possui saponinas, alcaloides e flavonoides.
Usado na tradicional medicina indiana, a Ayurveda, na homeopatia e na medicina tradicional, o urucum tem diversas finalidades terapêuticas. Possui propriedades bactericidas, diuréticas, adstringentes e é considerado afrodisíaco. Sementes e folhas são usadas para tratar diabetes, distúrbios gastrointestinais e doenças respiratórias. Embora seja, atualmente, a mais importante fonte de corantes naturais utilizados na indústria alimentícia, de onde se produz o famoso colorau, o urucum já era usado pelos indígenas das Américas do Sul e Central, muito antes da chegada dos colonizadores.
Os indígenas usavam as sementes de urucum ritualisticamente, misturando-as com gordura animal ou vegetal, obtendo uma espécie de pomada, que era usada para pintura corporal em cerimônias de iniciação, danças e festividades. Os astecas utilizavam o urucum para tingir de vermelho a bebida que preparavam com cacau, simulando sangue. Até mesmo na famosa carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei Manuel, há relatos do uso do urucum pelos povos nativos.
O nome urucum vem da língua tupi-guarani e significa vermelho. Na taxonomia vegetal, o nome do gênero, Bixa, é a forma latinizada do nome indígena da planta, bixá. Seu epíteto específico, orellana, é uma homenagem ao espanhol Francisco de Orellana, um explorador que, no início do século XVI, participou da conquista do Império Inca juntamente com o poderoso comandante espanhol Francisco Pizarro. Anos mais tarde, o irmão deste comandante, Gonçalo Pizarro, convidou Orellana como capitão de uma expedição colossal através dos rios da América Espanhola, partindo de Quito, em busca das lendárias "árvores de canela", relatadas por historiadores da época.
Na viagem, o grupo foi atacado e quase dizimado, então Pizarro e Orellana se separaram em busca de ajuda, combinando um ponto de encontro. Como Orellana não retornou, Pizarro retornou a Quito, encontrando antes, as famosas árvores de canela, mas na luta pela sobrevivência, não conseguiu marcar o local, tampouco fazer coletas. Orellana seguiu viagem em direção ao leste. Após 7 meses e mais de 4800 km a jusante, ele e seu grupo chegaram ao Oceano Atlântico pela foz do então Rio Grande, que passou a ser chamado Rio de Orellana, pelo fato dele ter sido o primeiro europeu a realizar tal façanha.
Tempos depois, já na Espanha, com Pizarro acusando Orellana de traição, por tê-lo abandonado em meio à perigosa floresta, Orellana se defendeu. Justificou o não-retorno por conta de ataques de uma tribo de belas mulheres guerreiras, de longos cabelos e tronco desnudo, que eram organizadas em uma poderosa nação em plena selva, e que se utilizavam do arco e flecha para abaterem seus inimigos. Se a história é verdade ou foi apenas uma invenção de Orellana para minimizar sua atitude, nunca saberemos, mas o fato é que, após tais relatos, o recém batizado "Rio de Orellana" passou a ser chamado de Amazonas.
Na mitologia greco-romana, Amazonas era o nome dado às mulheres de uma nação de guerreiras que vivia na região da Anatólia, na atual Turquia; elas aparecem na Ilíada, de Homero, na Guerra de Tróia e em vários mitos, como o de Jasão e os Argonautas, Os doze trabalhos de Hércules, dentre outros.
Autoria: Sandra Zorat Cordeiro (2019)
- Para saber mais: O urucum - uma semente com a nossa história.
Antar, G.M. Bixaceae in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro.Disponível em: <http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB5745>. Acesso em: 16 Dez. 2019.
Cabral, L.M. Plantas e civilização - fascinantes histórias da etnobotânica. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro. 2016.
Ferreira Filho, G.S. Cultivo de urucum - Sistema de produção. Porto Velho: EMATER-RO. 2018. Disponível em: http://www.emater.ro.gov.br/ematerro/wp-content/uploads/2019/01/CARTILHA-CULTIVO-DE-URUCUM.pdf. Acesso em 16 Dez. 2019.
Franco, C.F.O.; Silva, F.C.P.; Cazé Filho, J.; Barreiro Neto, M.; São José, A.R.; Rebouças, T.N.H.; Fontinélli, I.S.C. Etnobotânica e Taxonomia do Urucuzeiro. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: http://www.infobibos.com/Artigos/2008_1/UrucumTaxon/index.htm. Acesso em: 16 Dez. 2019.
Manganelli, L., Fonseca, Y.S., Ledo, N.A., Barbosa, L.M., Borges, G.F., Ramos, G.A., Silva, B.A., Barbosa, L.M. Estudo etnobotânico do uso de Bixa orellana L. (urucum) por agricultores do Extremo Sul da Bahia. Revista Cubana de Plantas Medicinales, v. 23, n. 3, 2018.
PEDROSA, J.P.; CIRNE, L.E.M.R.; NETO, J.M.M. Teores de bixina e proteína em sementes de urucum em função do tipo e do período de armazenagem. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 3, n. 1; p. 121-123, 1999.
Portal, R.K V.P.; Lameira, O.A.; Ribeiro, F.N.S.; Nunes, R.L.P. Avaliação fenológica do urucum (Bixa orellana L.). 17° Seminário de Iniciação Científica e 1° Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental. Disponível em https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/91982/1/Resumo51.pdf.
Quattrocchi, U. CRC World Dictionary of Medicinal and Poisonous Plants: Common Names, Scientific Names, Eponyms, Synonyms, and Etymology. Reimpressão. Boca Raton: CRC Press. 2012.