Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex Britton & P.Wilson
Família: VERBENACEAE
Nome científico: Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex Britton & P.Wilson
Nome popular: erva-cidreira-brasileira, erva cidreira, falsa-melissa
Foto: Sandra Zorat Cordeiro
Fotos: Ricardo Cardoso Antonio
Foto: Alice Worcman - Organicidade
Foto: João Medeiros / Creative Commons BY
Foto: Dianakc / Creative Commons BY-SA
Foto: Dianakc / Creative Commons BY-SA
Para o PDF da etiqueta, clique aqui.
Foto: Matheus Gimenez Guasti
Lippia alba, conhecida popularmente como melissa ou falsa-melissa, erva-cidreira, erva-cidreira-de-arbusto ou cidreira-brasileira, chá-de-tabuleiro, salva-limão, alecrim-do-campo, entre outros, é uma espécie nativa do continente americano, com ocorrência registrada do México até a Argentina. Muito celebrada pelas suas propriedades medicinais, é muito confundida com várias outras espécies também aromáticas e medicinais por terem o mesmo nome popular e pela grande quantidade de sinonímias que carrega.
A Lippia alba é uma espécie fortemente aromática, arbustiva, perene, muito ramificada, que pode atingir até 3 m de altura. Possui ramos ascendentes, alongados, que ao longo do crescimento tornam-se arqueados e, ao tocar no chão, acabam enraizando. Os caules possuem seção transversal quadrangular, são pubescentes quando novos e glabros quando velhos. A filotaxia é oposta-cruzada, com pequenas folhas de pecíolo curto, de cor verde a verde-acinzentadas, discolores, elípticas a ovadas, com borda serrada e superfície ligeiramente escabrosa na face adaxial e levemente pilosa e com nervuras proeminentes na face abaxial. As inflorescências são axilares, capituliformes, consideradas na literatura como glomérulos, comumente um por axila, com pequenas flores de corola violácea com fundo amarelo, marcadamente zigomorfa. Os frutos são drupas globosas de cor róseo-arroxeada.
A Lippia alba é uma das plantas mais utilizadas pela medicina tradicional brasileira e pela fitoterapia. As propriedades terapêuticas se concentram nas suas folhas, que são utilizadas em diversas preparações como: chás, compressas, banhos, macerados, inalações, extratos, xaropes ou tinturas. Estudos científicos identificaram propriedades antimicrobianas, antifúngicas, analgésicas, inseticidas, sedativas, relaxantes, ansiolíticas, anestésicas, antioxidantes, espasmolíticas, emenagogas e carminativas. É recomendada, sobretudo, no tratamento de problemas gastrointestinais e respiratórios, mas possui dezenas de aplicações dentro da medicina popular. Em algumas localidades da região nordeste é ainda considerada como PANC, visto que suas raízes são saboreadas como aperitivo.
Caracterizada por ser uma espécie marcadamente aromática, as atividades biológicas de Lippia alba estão intimamente relacionadas com seus óleos essenciais. Sua ampla distribuição geográfica, ao longo de toda região Neotropical e em diferentes condições ambientais (clima, solo, disponibilidade hídrica) interferem, diretamente, na composição qualitativa e quantitativa destes óleos. Assim, variedades desta espécie provenientes de diversas localidades foram selecionadas, ao longo do tempo, e agrupadas de acordo com os diferentes compostos majoritários contidos nos seus óleos essenciais; essas variedades passaram a ser consideradas quimiotipos. O grande número de quimiotipos de Lippia alba explica suas numerosas aplicações medicinais.
O nome do gênero, Lippia, é uma homenagem de Linnaeus ao médico, botânico e naturalista francês Augustin Lippi (1678-1704), morto muito jovem em uma missão francesa à Abissínia, localizada nos atuais territórios da Etiópia e da Eritreia. Seu epíteto específico, alba, origina-se do latim albus e significa branco ou pálido, sem brilho, em referência às pálidas flores que se concentram nas inflorescências axilares.
Além do grande número de sinonímias1, justificado pela sua plasticidade fenotípica - resultante da abrangente distribuição geográfica - Lippia alba é muito confundida porque possui algumas similaridades morfológicas, olfativas e/ou gustativas com outras espécies medicinais e, por incrível que pareça, os mesmos nomes populares! A denominação falsa-melissa vem da sua semelhança morfológica com a melissa verdadeira, a Melissa officinalis2, da família Lamiaceae, originária da Europa, também denominada popularmente de erva-cidreira. Há ainda o Cymbopogon citratus3, da família Poaceae, nativo da Índia, conhecido como capim-cidreira, capim-limão ou capim-santo, com aroma e sabor similares ao da Lippia alba.
O nome cidreira provém das palavras latinas Citréum, cunhada por Plínio4 no seu História Natural para denominar o limão, e da derivada citréus, como referente ao limão ou qualidade daquilo que é cítrico. O sabor cítrico das ervas mencionadas é devido à presença do citral, um dos óleos essenciais comum às três espécies denominadas cidreiras, conhecido por ser usado na indústria de perfumaria para intensificar o aroma de limão. Não é à toa que o gênero das frutas cítricas é o Citrus5, da família Rutaceae. Por conta disso, cidreira também é o nome da árvore da cidra, Citrus medica6, nativa da Índia. Cidreira ainda é nome de uma cidade no litoral gaúcho, e também nome de cor7 - um verde claro levemente amarelado.
Seja nome de cor, cidade, chá, fruta ou erva; seja falsa, verdadeira, de tabuleiro ou brasileira. Em latim, todos estes nomes são reunidos em um só: Lippia alba.
Autoria: Sandra Zorat Cordeiro (2020)
NOTAS
1 - Sinonímias de Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex Britton & P.Wilson
2 - Melissa officinalis L., a melissa verdadeira, conhecida como erva-cidreira, A - aspecto geral; B - inflorescência
A
Foto: Forest & Kim Starr / Creative Commons BY
B
Foto: Gertjan van Noord / Creative Commons BY-ND
3 - Cymbopogon citratus Stapf, conhecido como capim-cidreira, capim-limão ou capim-santo
4 - Plínio, o Velho: naturalista romano do séc. I, autor de História Natural, um compêndio de ciências com 37 volumes, que serviu de modelo para as posteriores enciclopédias pela abrangência de temas, referências a autores citados e índice.
5 - A denominação de Plínio ao limão originou ainda o nome Citrus, gênero da família Rutaceae, ao qual pertencem as denominadas frutas cítricas: laranja, limão, toranja, lima, tangerina e cidra.
6 - Citrus medica L. a árvore da cidra
Foto: H. Zell / Creative Commons BY-SA
7 - Cor cidreira (RGB #c0df92)
Acta Plantarum. Etimologia dei nomi botanici e micologici e corretta accentazione. Disponível em: https://www.actaplantarum.org/etimologia/etimologia.php. Acesso em: 30 Out. 2020.
Camillo, F.C. Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson uma espécie nativa promissora para a introdução em programas nacionais de plantas medicinais e fitoterápicos. Revista Fitos, Suplemento, p. 21-26, 2016.
GBIF - Global Biodiversity Information Facility. Lippia alba (Mill.) N.E.Br. Disponível em: https://www.gbif.org/species/8169446. Acesso: 23 Out. 2020.
Hennebelle, T.; Sahpaz, S.; Joseph, H.; Bailleul, F. Ethnopharmacology of Lippia alba. Journal of Etnopharmacology, v. 116, n. 2, p. 211–222, 2008.
Horto didático de plantas medicinais do HU/CCS. Salva / Melissa - Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson. Disponível em: https://hortodidatico.ufsc.br/salvamelissa/. Acesso em: 27 Out. 2020.
Lippia in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB15171. Acesso em: 23 Out. 2020.
Miller, P. The gardeners dictionary. Ed. 8. London: John and Francis Rivington, 1768. Disponível em: https://www.biodiversitylibrary.org/item/210061#page/212/mode/1up. Acesso em 30 Out. 2020.
Parra-Garces, M.I.; Caroprese-Araque, J.F.; Arrieta-Prieto, D.; Stashenko, E. Morfología, anatomía, ontogenia y composición química de metabolitos secundarios en inflorescencias de Lippia alba (Verbenaceae). Revista de Bíologia Tropical, San José, v. 58, n. 4, p. 1533-1548, 2010.
Quattrocchi, U. CRC World Dictionary of Medicinal and Poisonous Plants: Common Names, Scientific Names, Eponyms, Synonyms, and Etymology. Reimpressão. Boca Raton: CRC Press. 2012.
Salimena, F.R.G.; Múlgura, M.E. Notas taxonômicas em Verbenaceae do Brasil. Rodriguésia, v. 66, n. 1, p. 191-197, 2015.
Soares, L. Estudo tecnológico, fitoquímico e biológico de Lippia alba (Miller) N. E. Brown ex Britt. & Wils. (falsa-melissa) Verbenaceae. 2001. Dissertação (Mestrado em Farmácia). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
Tavares, E.S.; Julião, L.S.; Lopes, D.; Bizzo, H.R.; Lage, C.L.S.; Leitão, S.G. Análise do óleo essencial de folhas de três quimiotipos de Lippia alba (Mill.) N.E.Br. (Verbenaceae) cultivados em condições semelhantes. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 15, n. 1, p. 1-5, 2005.
Tavares, I.B.; Momenté, V.G.; Nascimento, I.R. Lippia alba: estudos químicos, etnofarmacológicos e agronômicos. Revista Brasileira de Tecnologia Aplicada nas Ciências Agrárias, v. 4, n.1, p.204–220, 2011.