Sansevieria trifasciata Prain
Família: ASPARAGACEAE
Nome científico: Sansevieria trifasciata Prain
Nome popular: espada-de-são-jorge
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Fotos: Sandra Zorat Cordeiro
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Foto: Matheus Gimenez Guasti
Sansevieria trifasciata, conhecida no Brasil como espada-de-são-Jorge ou espada-de-ogum, é uma planta originária do continente africano e tem seu cultivo amplamente distribuído em todo o mundo, tanto pela sua utilização com ornamental como pelas suas supostas propriedades místicas, profusamente difundidas entre as religiões de matriz africana.
A espada-de-são-jorge é uma planta herbácea, cespitosa, acaule e rizomatosa, que pode atingir até 90 cm de altura. Suas folhas, dispostas verticalmente, em roseta, são suculentas, eretas, podendo ser lineares ou lanceoladas, de ápice pontiagudo e rostrado, glabras em ambas as faces, coriáceas e muito fibrosas. Possuem coloração característica, com manchas transversais irregulares e intercaladas, de cor verde-escuro e verde-claro, facilmente identificável. Suas inflorescências, do tipo racemo simples ou panícula, se erguem em um escapo floral pedunculado, a partir do centro da roseta, com flores gamotépalas, cor de rosa ou esbranquiçadas. Durante a antese, que ocorre à noite, as flores liberam uma agradável fragrância e suas tépalas recurvadas criam um belo efeito visual, mesmo assim, possuem uma importância ornamental secundária em relação às folhas. Seus frutos são carnosos, de cor laranja.
A Sansevieria trifasciata possui diversas variedades e cultivares, todos com caráter ornamental, que possuem variações de tamanho e coloração das folhas, sendo enquadrada comercialmente em uma categoria denominada folhagem, ou seja, as flores não são o atrativo principal. São muito procuradas para decoração de ambientes, geralmente rústicos, na composição de jardins ou interiores, pois não necessitam de cuidados especiais; possuem fáceis condições de cultivo e são extremamente tolerantes, tanto ao excesso como à falta de água e sol. Também são usadas como folhagem de corte, na composição de arranjos, pela durabilidade de suas folhas ao longo do tempo.
Embora alguns autores relatarem certa toxidade, principalmente nas suas flores, que podem causar irritações cutâneas, esta planta é usada, pela medicina tradicional, no alívio de dores de ouvido e das reações oriundas de picadas de serpentes. É ainda fonte de uma espécie de fibra vegetal muito forte, para confecção de cordas, denominada "cânhamo de corda". É indicada para melhorar a qualidade do ar, devido à capacidade de absorver certas toxinas relacionadas à poluição atmosférica, como óxidos de nitrogênio e formaldeído. Em algumas regiões, como Flórida, Austrália e Caribe, é considerada invasora, muito agressiva e altamente adaptável, impactando e perturbando comunidades de vegetação nativa.
A característica mais notável da espada-de-são-jorge, no entanto, está naquilo que não pode ser visto: sua representatividade no misticismo e no sincretismo entre religiões afro-brasileiras e o cristianismo, sendo considerada uma planta sagrada. Nas religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, ela simboliza a espada de Ogum, o senhor do ferro, orixá que forjava suas ferramentas para a caça e a guerra. No Brasil, Ogum foi sincretizado a São Jorge, o jovem guerreiro que renunciou às fileiras militares do Imperador Diocleciano para seguir sua fé em Cristo, mas foi morto e virou mártir, tornando-se padroeiro da Inglaterra, Turquia, Rússia, Portugal, Geórgia, Lituânia, Sérvia, Montenegro e Etiópia, sendo aclamado como um dos santos mais populares no Brasil.
Também chamada de espada-de-ogum, esta planta faz parte das crendices populares e está presente em incontáveis rituais religiosos, sendo muito indicada em benzimentos, banhos de descarrego e limpeza espiritual, para "abrir caminhos". Comumente, é mantida em vasos próximos à porta ou tem uma de suas folhas colocada sobre esta, sendo usada como uma espécie de amuleto, afastando mal-olhado, inveja, feitiços e vibrações negativas.
De acordo com a literatura, o que se sabe sobre o nome do seu gênero, Sansivieira, é que foi uma homenagem do botânico sueco C.P. Thunberg; resta saber para quem: ao seu conterrâneo, o também botânico M. Sansevier, ou a Raimondo di Sangro, príncipe de Sansevero, localizado em Nápoles, na Itália. Seu epíteto específico, trifasciata, derivado das palavras latinas tri (três) e fascia (faixa), está relacionado às bandas ou faixas de diferentes cores em suas folhas.
Independente da crença de cada um, seja para afastar energias negativas ou apenas para enfeitar o ambiente, ter um vaso com espada-de-são-jorge em casa, por via das dúvidas, certamente, não fará mal a ninguém.
Autoria: Natália Faria Marques, Gilson Fagundes da Rocha e Sandra Zorat Cordeiro (2020)
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