A dieta do cervídeo gigante
Há cerca de 700 mil anos, dezenas de espécies de cervídeos povoavam a região da América do Sul. O maior deles era o Morenelaphus Brachyceros, que podia pesar até 400 kg e se caracterizava por uma imensa galhada na cabeça dos machos.
O animal é um dos focos das pesquisas realizadas no Laboratório de Mastozoologia (Lamas), do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências (Ibio) da UNIRIO, chefiado pelo professor Leonardo Avilla. Entre outras atividades, a equipe do laboratório se dedica a investigar a paleobiologia da megafauna extinta.
Um dos estudos foi desenvolvido por Alline Rotti, aluna do curso de Ciências Biológicas e bolsista de iniciação científica no Lamas. Para compreender os hábitos alimentares do Morenelaphus, ela buscou padrões de micro-desgaste em dentes daqueles animais, que pudessem indicar qual seria sua dieta. Os exemplares analisados foram encontrados no estado do Tocantins, na província argentina de Santa Fé e na província de Buenos Aires.
“Cada alimento deixa um tipo de marca no esmalte. Mas como determinar qual marca foi produzida por que tipo de alimento? Trabalha-se por comparação. Há um banco de imagens na internet com fotos de cada tipo de marca, arranhão ou cicatriz, e a indicação do alimento provável cujo consumo provocou cada forma de desgaste”, explica Avilla, que orientou a pesquisa.
Os dados produzidos por Alline, com base nas marcas de arranhões e buracos dos dentes analisados, apontaram para uma dieta mista, com consumo de grande quantidade de gramíneas. Além disso, o cervídeo provavelmente habitava áreas abertas, com vegetação rasteira, o que poderia favorecer o consumo de partículas abrasivas do solo.
Os resultados foram publicados no artigo Diet reconstruction for an extinct deer (Cervidae: Cetartiodactyla) from the Quaternary of South America, da revista Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology.
A técnica de análise de micro-desgaste utilizada no estudo foi desenvolvida pela bióloga Gina Semprebon, da Bay Path University (EUA), que assina o artigo com Alline Rotti, Leonardo Ávilla e Dimila Mothé, colaboradora no Laboratório de Mastozoologia.
(Com informações de Peter Moon, da Agência Brasileira de Divulgação Científica)