Comissão de Cuidados Paliativos celebra um ano de atividades
Viver por princípios e não por protocolos. Esse é o lema dos profissionais responsáveis pela Comissão de Cuidados Paliativos (CPP). Há um ano atuando no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG), o grupo é formado por uma equipe multidisciplinar, mas com uma finalidade em comum: cuidar e atender com qualidade o paciente diante de uma doença que ameace a vida. Pensando nisso, a CPP, em comemoração ao seu primeiro aniversário, realizou, na última quinta-feira, 22 de março, um debate objetivando a troca de saberes e experiências no atendimento.
"Os convidados foram escolhidos pelo espírito de gratidão, foram pessoas que cooperaram conosco nos bastidores, nos capacitando, socializando e transferindo conhecimento", informou, na abertura da mesa, a assistente social Edna Corrêa, presidente da CPP.
"Celebrar o aniversário é a oportunidade de divulgar a cultura do cuidado paliativo. As pessoas têm dúvidas e medo. Até vencermos isso, precisamos explicar nossa atuação. Diferentemente de outras áreas, não existe um conhecimento fechado para resolver todos os casos. Não há um manual, o limiar de dor de uma pessoa é diferente da outra. É um desafio e um aprendizado diário", completou Alessandro Milan, vice-presidente da CPP e chefe do CTI do HUGG.
"A universidade é um lugar de estudo e de trocar ideias. Temos que mudar alguns comportamentos e algumas culturas, e a melhor maneira de fazermos isso é com educação. Isso é uma prioridade", afirmou o diretor técnico do hospital, Ricardo Carvalho.
Para Débora Mattos, responsável pelos cuidados paliativos em Oncologia Pediátrica do Instituto Nacional do Câncer (Inca), a atenção paliativa busca o tratamento em todas as suas dimensões, de forma interdisciplinar:
"Quem sofre, muitas vezes, é o indivíduo e não o corpo. Vamos além do físico. Nos preocupamos com o lado espiritual, social e psicológico. Buscamos a plenitude ao morrer do paciente, para que ele se sinta à vontade, em paz consigo mesmo e com os demais a sua volta", explicou.
A psicóloga Erika Pallottino, coordenadora do Ambulatório de Intervenções e Suporte ao Luto da Santa Casa da Misericórdia, ressaltou a importância da flexibilização dos protocolos, visto que o trabalho com sofrimento humano não permite a utilização de técnicas engessadas:
"O cuidado paliativo suscita na gente reflexões o tempo inteiro. A morte é inegociável, mas o nosso mundo interno é negociável. Pode-se sentir o processo de morrer, mas, ao mesmo tempo, seguir com esperança. Quando entra no cenário um especialista do cuidado, o cenário do cuidado se transforma. Nós somos isso. Não é possível, hoje, pensar o HUGG sem esse trabalho", concluiu.
A relevância da CCP no atendimento hospitalar também foi destacada por Ernani Costa Mendes. Para o fisioterapeuta do Inca, só será possível uma mudança concreta quando houver uma atuação conjunta, em que o paciente passe a ser visto com compaixão:
"Quando olhamos com compaixão, damos esperança. Essa visão diferenciada não deve englobar apenas o HUGG, mas toda a universidade. Não suportamos mais ver pessoas sofrendo de maneira desnecessária, temos a obrigação de diminuir o sofrimento evitável. Devemos ressignificar toda a história, ou seja, possibilitar a transformação de uma situação física dolorosa em uma situação espiritual amena e libertadora", declarou.
Outra participante da mesa, Danielle Barata, advogada, levou ao debate a visão jurídica, que mudou, a partir de 2015, por meio do Estatuto da Pessoa com Deficiência, e passou a considerar a vontade do paciente como premissa fundamental no tratamento de doenças que ameaçam a vida:
"Enquanto o paciente estiver consciente e for capaz de expressar seu desejo, este deverá ser respeitado. Seja anteriormente, por meio do testamento vital, ou no momento em que se encontrar internado, ainda que esteja interdito. Se até o mundo jurídico mudou, nós da área da Saúde não podemos ir na direção contrária", esclareceu.
Ao fim do evento, a chefe do serviço de Medicina Física e Reabilitação em Fisioterapia do Hospital Central do Exército (HCE), Sílvia Nobre, explicou o funcionamento do Programa de Vivência e Análise Corporal de Internados ou em Tratamento. Por meio de aulas de teatro, os pacientes aprendem a lidar com suas emoções e encarar o mundo de uma forma diferente. O projeto pioneiro para saúde coletiva engloba, ainda, psicodrama, dança e música.
(Felipe Monteiro, assessor de comunicação do HUGG)